141º Passeio Pedestre Fevereiro 2013 Painho Concelho de Cadaval

A caminhada 24 de Fevereiro Painho Concelho de Cadaval 


 A povoação do Painho teria tido origem na fixação de trabalhadores das quintas da região e aparece já referida em documentação do séc. XVI. A região foi desanexada de Óbidos no século XIV e o seu senhorio deve ter passado da Casa das Rainhas para os cruzados franceses que aqui se fixaram, nas terras oferecidas pelos reis de Portugal. Painho situa-se nas margens do Rio Arnóia junto às ricas vàrzeas desde tempos antigos ocupadas pelas diversas quintas da região. Como freguesia, foi constituída há cerca de 100 anos, fazendo parte do concelho do Cadaval.

 O topónimo Painho poderá provir de colónias de aves marinhas com este nome que aqui nidificassem – o que parece bastante improvável, tendo em conta a distância a que se situa do mar - ou de pequenos paios que aqui tivessem sido produzidos. Contudo, o mais provável é que o termo tivesse sofrido alterações ao longo dos tempos e não seja nenhum destes o seu significado original. A igreja do Divino Espirito Santo foi construída no século XVIII sob ordens do Pe. Manuel de Almeida, onde se encontra sepultado, bem como outros fidalgos, nomeadamente um Cavaleiro de Cristo, no século XIX.

 O Pão-de-ló da Ti’Piedade é um ex-libris da terra, sobretudo desde que há cerca de 20 anos passou a ser produzido de forma industrial, mantendo, contudo, as características de doce de origem conventual. Trata-se de um pão-de-ló confecionado com muitas gemas e de cozedura não uniforme que, até ao séc. XIX, estava confinado às paredes dos conventos, onde eram usadas nesta e noutra iguarias as muitas gemas que sobravam depois de usadas as claras para engomar partes dos hábitos das monjas.

Ás monjas foi permitido que continuassem em clausura até ao fim das suas vidas, tendo, grande parte delas, sido transferidas para o Convento de Odivelas. Sem abrigo ficaram as muitas criadas que acompanharam as “suas” meninas na clausura dos conventos e onde faziam todo o trabalho necessário à comunidade, nomeadamente os doces. Foram essas criadas que trouxeram para o exterior grande parte das receitas conventuais. No caso do Pão-de-Ló de Alfeizerão, de receita semelhante ao do Painho, foram criadas das monjas de Cós que a trouxeram para a casa onde foram acolhidas e aí permaneceu, com história idêntica, sendo apenas confecionado para as casas dos senhores, em épocas festivas, até que começou a ser produzido para venda, nos anos 30 do século passado. Desde então tornou-se tão famoso, que é frequente a terra ser visitada por grupos de turistas japoneses que procuram ver a origem do seu Kasutera – derivação do nome Castela, dado pelos portugueses ao bolo de farinha ovos e açucar que levavam nas suas viagens marítimas e que ficou no Japão, tendo-se tornado numa iguaria muito popular. Trata-se da versão seca do pão-de-ló, também muito popular no nosso país.

A capela de S. João, na Boiça do Louro, evidencia um povoamento antigo e a importância de um local hoje quase inimaginável. A sua localização nas antigas vias de acesso da época medieval poderá evidenciar a possibilidade da existência de estruturas de apoio aos viajantes, hoje desaparecidas, tendo apenas restado o local religioso e a preservação de duas imagens em pedra, de S. João e da Virgem, que parecem descontextualizadas agora, que outros elementos arquitetónicos não existem para atestar a sua antiga importância. Neste mesmo local foi recuperado espólio pré-histórico que nos remete para a sua ocupação humana desde, pelo menos, a Idade do Ferro, evidenciando as boas condições que as margens do Rio Arnóia sempre proporcionaram aos habitantes.